TelÚricas
é um projeto que visa a experimentação e criação de cenas e micro cenas autorais com temáticas ligadas ao feminino.
Sua pesquisa parte das perguntas: como estar sozinha em uma sala de ensaios e desenvolver um processo criativo solo? Como mediar/apoiar o processo de outra atriz solo?
Idealizado em 2017 pela artista Liz Schrickte, busca também promover espaços de pesquisa e criação para artistas mulheres, enxergando o estado criativo como potência da existência e o palco como ensaio para a LIBERDADE e a REVOLUÇÃO.
“Descobri que só sei falar do que é meu. Daquilo que me atravessa, fura, vaza. Do meu quintal lanço o olhar para o mundo” (ANA CRISTINA COLLA, atriz do LUME).
Trabalho autoral traz um frescor que arrebenta com padrões antigos e com o poder opressor: "Não tem um início, não tem um antes, ele começa em você". (Denise Stocklos)
Ao contrário das autobiografias masculinas que buscam purificar os seus sujeitos da culpa através da escrita, as narrativas femininas vêm para trazer testemunho e denunciar as violências sofridas pelo Estado, pela política, pela Igreja e pelos preceitos sociais (Margareth Rago).
“Percebi que as pessoas que mais me tocaram, durante meu aprendizado e posteriormente como atriz e espectadora, foram mulheres” (Rafaelle Doyon)
entro na sala de ensaio...
Sou só eu, a atriz, um tablado e um espelho. Tenho ideias, tenho sentimentos fortes, tenho assuntos que gostaria de tratar.
Coloco uma música e percorro o palco caminhando, ocupando os espaços, uma das dinâmicas mais recorrentes em exercícios teatrais coletivos. Começo a dançar, reproduzir gestos.
Busco minha bolsa de onde retiro um caderno rosa com escritos. Leio em voz alta, em sussurros, em forma de diálogo. Tento construir partituras cênicas.
O espelho me olha, me julga. Interrompo o trabalho e me questiono: eu vou conseguir começar isso assim, sozinha, sem uma professora propondo improvisos, sem uma parceria de diálogo apra eu contracenar, sem a clássica figura do diretor sentado em uma cadeira a me ditar os próximos passos a dar?
A origem do projeto Mulheres Telúricas veio dessa minha experiência de estar sozinha em uma sala de ensaios. O meu primeiro solo, de 2018, foi de puro sofrimento. Eu me deparei com uma total insegurança, um auto-boicote. Muitos ensaios foram apenas ficar parada 2 horas olhando pro espelho. Outros eu filmava e ficava achando tudo muito ruim. (Muito choro. Mas eu não tenho mais medo de chorar. Choro é força.) E por isso pensei em construir um coletivo que pudesse ter a criação individual na cena, esse experimentar individual pra construção prática de um discurso meu em cena, mas sem estar tão sozinha. Um coletivo de mulheres. Telúricas.
Liz Schrickte