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selecionadas
Loló
Letícia Castilho
Elisângela de Souza
Suplentes
1. Letícia Bezamat
2. Dayane Lacerda
o projeto
As artistas que compõem o coletivo das Mulheres Telúricas já experienciaram a tentativa de desenvolver trabalhos autorais, se deparando com a falta de tempo, de autoconfiança, de recursos e a dificuldade de exercer várias funções sozinhas. Essas ideias acabaram sendo engavetadas ou provocaram frustrações e inseguranças que encontram agora no projeto a junção de forças para oferecer as condições necessárias para sua resolução. Trata-se de um primeiro passo para um coletivo que pretende ser contínuo, agregar outras e mais mulheres com objetivos em comum e construir uma dinâmica e uma estratégia de trabalho que permita a realização de criações constantes de forma saudável e possível para todas diante de suas realidades.
a temática
A temática “solidão”, como deflagradora dos solos do projeto, surgiu embasada em dois sentidos: o primeiro no estar mulher no mundo, um estado de constante solidão dentro de uma cultura patriarcal, se desdobrando nos diversos significados que isso pode ter para cada uma dessas mulheres em relação a filhos, companheiros e companheiras, pais, profissão e sociedade. O outro sentido foi para o lado contrário: se refere a oportunidade de poder estar sozinha, de desenvolver um solo autoral, de extravasar a necessidade de uma solidão criativa na cena, de ser uma atriz que é autora e criadora, porém continuar segura e abarcada por uma mediação e todo um coletivo de mulheres apoiadoras.
palavras-chave da pesquisa
O conceito de atriz-autora é fundamentado em Carreira e Silva (2019) que, dentre outras categorias como Ator-Criador e Ator-Encenador[1], enfatiza a particularidade desse ator que participa da construção dramatúrgica de um espetáculo e cuja autoria dialoga amplamente com suas inquietações criativas. O artigo se usa de uma comparação entre a escrita poética do ator com a escrita poética de um escritor[2]. Neste mesmo caminho, e em análise à autonomia dos atores dentro de um processo em grupo, Paula Alves Barbosa Coelho (2007, p. 536) fala da “autonomia do ator enquanto dramaturgo de sua própria subjetividade, transmudada em matéria ficcional e artística”. É nesta transformação de “matéria pessoal” em “matéria ficcional” que se afloram alguns conceitos/ferramentas que servirão de provisão para a experimentação prática que será desenvolvidas nesse processo. São elas: singularidades, autoficção, diário de bordo e palestra-performance (olhar em BLOG).
De forma resumida, as singularidades seriam potências de si convertidas em material de atuação. Já a autoficção viria com a transposição dessas singularidades para a escrita, em que vida e arte se agregam na construção de uma obra que narra e assim ficcionaliza as nossas próprias histórias. O diário de bordo aparece como um suporte para o registro dessas descobertas, um arcabouço de memórias e rascunhos que acabam por também projetar nossa identidade artística. A palestra-performance, por fim, pode se utilizar das nossas singularidades, autoficções e diários de bordo para a composição de uma ação expositiva de ideias, inserindo elementos performativos e formatando, assim, uma possível alavanca para o trabalho de uma atriz-autora.
Júlia Alves Rodrigues Carvalhal (2016, p. 44) descreve a função do Provocador Cênico como aquele que é fortalecido em uma lacuna “[...] entre a necessidade de autossuficiência dos atores, muitas vezes por um modelo datado e generalizado de diretor, e a necessidade de um olhar de fora de cena, catalisador, que possibilidade uma ressignificação e reflexão acerca da própria prática”. Essa posição, relativamente nova na história do teatro, surge com o fortalecimento dos grupos de teatro, dos trabalhos colaborativos e da emancipação da figura do ator.
[1] Segundo citação do artigo, a referência “ator-autor” teria sido designada pelo ator e diretor Sérgio Penna.
[2] Segundo os autores, trazida oralmente por Ângela Mourão, atriz-autora do espetáculo solo Olympia.