PALESTRA-PERFORMANCE
- Liz Schrickte
- 10 de ago. de 2023
- 2 min de leitura

A palestra-performance é uma modalidade que tem tomado destaque na cena contemporânea. Com diversas nomenclaturas e pouco consenso em sua definição, usaremos a definição de Marco Catalão, que a encerra no verbete:
A palestra-performance é uma forma híbrida em que os dispositivos de exposição não são concebidos como simples instrumentos subordinados à transmissão de certas ideias; seu efeito performativo é explorado cenicamente de diversas maneiras. (CATALÃO, 2009, s.p.)
Catalão (2019, s.p.) acrescenta, ainda, sua dupla desarticulação ao desmontar os modos habituais de exposição acadêmica e pôr em xeque a caracterização da performance artística como atividade não discursiva. Essa prática artística de expor um discurso performaticamente, desmistifica o lugar “genial” do artista, aquele que acorda com uma grande inspiração e por um gesto divino constrói uma obra atemporal e aplaudida por público e crítica. A palestra-performance expõe, assim, o processo criativo embasado na pesquisa e no trabalho árduo, uma proposta que rejunta o lado objetivo da academia com as subjetividades de um processo pessoal e criativo, um modelo que trança conteúdo e forma, processo e produto, artista e obra.
Camila Moreira Gomes (2022, p.15) define algumas características recorrentes desse formato em ascensão, algumas exemplificadas na Figura 1:
a frequente evocação ao ato de leitura; a utilização de imagens em telas, a mesa como um elemento centralizador para as operações cênicas; o ato de criação como a possibilidade de um gesto autorreferente, processual, parcial e inacabado; a forjada fluidez de uma oralidade, que na verdade, é repleta de pausas, interrupções, como condição de sua própria reflexão
Grada Kilomba se usa da palestra-performance[1] para propor um formato de pesquisa acadêmica que subverte o ponto de vista eurocêntrico sobre a produção de conhecimento. Kilomba acredita que as subjetividades são tão importantes quanto as objetividades, em uma concepção epistemológica decolonial que perpassa pelo corpo e pelos afetos daquele que enuncia. Suas aspirações teóricas se concretizam na forma com que escolhe apresentar suas ideias. Dodi Leal, por sua vez, autora da palestra-performance Traved, se apoia no formato das TEDs[2] para construir uma encenação que coloca em atrito o real, o ficcional e o virtual. Elementos da biografia de Dodi se misturam a temáticas como a ecologia, a ciência, a identidade, o corpo e a cidade e exploram as possibilidades cênicas aliadas às tecnologias digitais.
A palestra-performance é então um modo de organização e explanação de uma ideia, um ato que acaba por sistematizar uma pesquisa em movimento, convergindo elementos textuais, referências teóricas, imagens, memórias, recursos de áudio e ações do interlocutor para construir e demonstrar o conceito estético-poético de uma criação. É uma ideia em forma que traz traços de coexistência entre o produto da criação e a fundamentação de seu processo criativo em diálogo com o seu autor.
[1] Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=iLYGbXewyxs&t=2553s Acesso em: 30 mai. 2023. [2] A sigla no inglês corresponde à “Tecnologia, Entretenimento e Design” e é utilizada para nomear um formato de compartilhamento dinâmico de ideias que não ultrapassa 18 minutos, com transmissão amplamente divulgada na internet.
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