Um dos variados cadernos de escritos de Ana Cristina Colla também é rosa como o meu. Ela é atriz do LUME, prestigiado grupo de teatro do estado de São Paulo e escreve: “Descobri que só sei falar do que é meu. Daquilo que me atravessa, fura, vaza. Do meu quintal lanço o olhar para o mundo” (COLLA, 2019, p.12). Assim, a descrição do seu livro intitulado Da Minha Janela Vejo... Relato de uma trajetória pessoal de pesquisa no Lume (2006) já imprime sua crença de que a busca da própria singularidade é o único caminho para se chegar ao conhecimento partilhável.
Eu também entendo que atuar, na perspectiva do trabalho de uma atriz de teatro, sempre coloca em jogo as minhas subjetividades. O encontro de um método de atuação com o meu corpo, o meu olhar sobre os personagens de uma obra, a materialização de uma ideia em cena vem sempre acompanhada de toda a bagagem - memórias, experiências, ideologias, sonhos - que enquanto sujeito criador trago para a cena. Essas particularidades de cada indivíduo-artista podem ser i
lustradas pelo conceito de singularidades.
Somos singulares, indivíduos forjados na caldeira de nossa família, de nosso lugar, de nossa cultura, de nossas experiências e de tudo aquilo que de tão nosso não sabemos de onde vem. O nosso “eu” se reverbera no nosso trabalho, nas nossas relações, nos nossos corpos. Nas palavras de Cristóvão de Oliveira:
A singularidade se manifesta, portanto, no modo como o ator converte em elementos de trabalho todos os impulsos e limitações que lhe são particulares, ou peculiares, e na sua capacidade de engendrá-los no seu processo de criação que resulta, então, em um modo próprio de trabalho, pessoal, pois. (OLIVEIRA, 2010, s.p.)
Aquilo que carregamos em nós é material sensível dos mais potentes e podemos manejá-lo tanto na busca por uma técnica pessoal de trabalho, como Oliveira descreve acima, quanto na utilização e ressignificação de conteúdos reais de nossas vidas que sirvam à escrita de cenas autorais que nos atravessam e atravessam a quem nos assiste.
COLLA, Ana Cristina. O Corpo da Palavra ou A Palavra do Corpo: A escrita como criação. Revista Rascunhos - Caminhos Da Pesquisa Em Artes Cênicas, v. 6, n.2, 2019. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/rascunhos/article/view/46280 . Acesso em 2 jul. 2023.
OLIVEIRA, Cristóvão. A Busca pela Singularidade no Trabalho do Ator. Portal Abrace. 2010. Disponível em: http://www.portalabrace.org/vicongresso/territorios/Crist%F3v%E3o%20de%20Oliveira%20-%20A%20Busca%20pela%20Singularidade%20no%20Trabalho%20do%20Ator.pdf Acesso em 10 mai. 2023.
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